"A pobreza é a pior forma de violência" (M. Gandhi)

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"A pobreza é a pior forma de violência" (M. Gandhi)

quarta-feira, 29 de junho de 2011

ADDHU leva a língua e cultura portuguesas aos bairros de lata do Quénia



Espalhamos a língua e a cultura portuguesas em África, sem ser nos PALOP, sem ajuda nem do governo português, nem de outras instituições... Somente com os donativos gerais que recebemos das pessoas e de outras pequenas organizações que apoiam o nosso trabalho. É com enorme satisfação que iniciamos este programa não só porque nos orgulhamos de dar a conhecer o nosso país, mas também porque levamos o conhecimento e melhores oportunidades na vida a jovens de meios desfavorecidos. A língua portuguesa é falada em 5 países de África e no Brasil. É uma mais valia! 

terça-feira, 28 de junho de 2011

África...


África! A Natureza foi generosa nos atributos que lhe deu. Como, pergunto-me, pode haver tanto sofrimento num local que nos presenteia com tão magnífica visão?

Mas assim é e eu que o diga. O sofrimento daqueles meninos de olhar triste e por vezes vago que vejo nos bairros de lata na periferia de Nairobi é também, agora, o meu e nada posso contra o que sinto.

Luto a cada dia, peço, quase que imploro muitas vezes calada somente pelo meu silêncio que sufoca o grito que me apetece dar: “ Não vêem? Não entendem? Venham que eu mostro-vos…”

Cheguei já cheia de pó e a cara mascarrada do fumo dos matatus. Como sempre, fui acolhida com entusiasmo e alegria, mesmo no meio de tanta coisa feia e mal cheirosa: os telhados de zinco retorcidos que se opunham à minha passagem incólume davam lugar aos sorrisinhos e àquelas vozinhas que me diziam sempre “how are you”, olhares tristes, mas cheios de esperança e curiosidade: “trará bolachas e leite e talvez um pouco de porridge? Hum yummi!”

Sim trago tudo isso e alguma farinha para chapatis de que tanto gostam.´Por momentos é a algazarra e esquecem-se as dores, esquece-se a fome com a perspectiva de uma refeição, de uma bolacha, de um litro de leite que tão pequenos sorvem em menos de um minuto, com os olhinhos muito abertos.

Aconteceu-me, uma vez, e jamais esqueci: esbarrei com um pequenote, não tinha mais de 3 anos, de camisa de pijama suja e esfarrapada, uns calções sem cor definida de pó e porcaria que traziam agarrados e de pezinhos nús. Estave ele sentado no chão, com uma das mãos na cabeça, como se estive absorto pelos mais filosóficos pensamentos. Quando sentiu a minha presença e sem tirar a mão da cabeça, olhou-.me, de  modo profundo, mas o seu olhar estava tão vazio, sem desespero, sem dor, sem nada, que me arrepiou. Nenhuma criança devia ter um olhar daqueles, tão pesado, tão velho, ausente de sentimento.

Alegro-me por percorrer os caminhos que percorro: alegro-me por conhecer, por esses caminhos, as pessoas que conheço: alegro-me porque posso sentir alegria no meio do sofrimento, porque posso sentir a gratidão daquelas gentes, daquelas crianças e sorrio porque verdadeiramente e mesmo chorando, sou abençoada!