"A pobreza é a pior forma de violência" (M. Gandhi)

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"A pobreza é a pior forma de violência" (M. Gandhi)

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Onde está a minha mãe?

São 3 e meia da tarde. Mais um dia de escola que chegou ao fim. A Georgina tem 5 anos: entra no autocarro para ir para casa e percorre o caminho olhando pela janela, vendo o bulício de Ongata Rongai que tão bem conhece. Para ela, este é o seu mundo, ou melhor o Mundo.
O autocarro pára e a Georgina sai perto da sua casa onde , como de costume, a mãe a espera. O pai morreu não há muito tempo com Sida. Trabalhava no Ministério de Educação, não ganhava mal e a família vivia numa casa modesta, mas com algum conforto. A mãe estava desempregada há já algum tempo e a vida não corria da melhor maneira. Para a Georgina a morte do pai foi simplesmente uma ausência: ela não entendeu que era para sempre, por isso não ficou triste. Tinha a mãe! No entanto, nesse dia, quando chegou a casa a mãe não estava. A Georgina procurou-a na pequena casa onde habitavam, chamou-a, chamou-a e ficou sem resposta; apenas o silêncio. Sentou-se numa cadeira e colocou a pasta no sofá. Tinha fome, queria lanchar, mas a mãe não chegava e ela não sabia o que fazer. Passado algum tempo abriu a porta de casa, saiu para a rua e chamou pela mãe. Não houve resposta. Já assustada, foi percorrendo  a rua de terra batida chamando pela mãe até que uma senhora lhe pegou na mão  e disse: " Quem procuras menina? Onde está a tua mãe?" Georgina respondeu timidamente e com o queixo a tremer deixando correr uma lágrima pela face: "Não sei, não sei..." "Onde moras?", perguntou a senhora. A Georgina apontou com o dedinho para o fim da rua, no sentido da sua casa. "Vamos lá ver" disse a senhora sorrindo. A Georgina deu-lhe a mão e as duas foram pela rua abaixo até à casa da menina.
"Ah, já sei quem é a tua mãe" disse a senhora, "vi-a sair de manhã, mas não  a vi regressar. Vem comigo."
Assustada a menina foi com ela: tinha fome e não queria estar ali sozinha.
No dia seguinte a Georgina não foi à escola. Esperou em casa da senhora, foi inumeras vezes a casa, chamou pela mãe, mas esta não respondeu. Pelas 5 horas da tarde, a senhora resolveu levar a Georgina ao posto da polícia local e dar conta do desaparecimento da mãe da menina.

São 10 horas da manhã: a porta do Wanalea Children's Home abre-se e a Georgina entra pela mão do oficial do tribunal de menores. Esta será a sua nova casa: ali estão mais 26 crianças, todas com histórias ainda pior do que a Georgina: agora são uma família e é como família que a Georgina é recebida.

Duas semanas passaram e nem sinal da mãe da menina. O tribunal entrega a custódia da Georgina ao Wanalea Children's Home. Mesmo que a mãe apareça, o abandono da filha, que a lei severa do Quénia pune com 14 anos de prisão, é motivo suficiente para que a menina não volte a viver com a mãe. Talvez um parente: a investigação prossegue, mas a Georgina encontrou uma família e já ri novamente, voltou à escola, brinca e saltita alegremente com a que já é a sua melhor amiga, a Hilda que também tem 5 anos e é orfã.

É dia de ir ao médico fazer os exames exigidos no Wanalea Children´s Home. A Georgina é seropositiva, como a Irene que também faz parte desta família. Será tratada e com a boa alimentação e cuidados, tal como a Irene, superará a fragilidade que a doença lhe provoca.

A Georgina apresenta um estrabismo no olho direito, assim é levada ao oftalmologista. Os óculos já estão encomendados e chegam para a semana. O médico refere que com 5 anos, esta forma de estrabismo que poderia levar a menina à cegueira, pode ser tratada com sucesso. A Georgina não perderá a visão e o estrabismo desaparecerá em 2 anos.

Hoje, passado um mês, a Georgina está feliz. A mãe parece ter sido vista nas redondezas, não se sabe ao certo, mas não reclamou a filha: dizem que foi depressão pela morte do marido; dizem que fugiu com outro homem; dizem que sendo a filha seropositiva não queria cuidar dela, não se sabe o que leva uma mãe a abandonar uma menina como a Georgina. Talvez temesse não ter como  a alimentar, quem sabe...

Hoje a Georgina pegou-me na mão, olhou para mim, sorriu, e disse: "mummy Laura I love you!"

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