"A pobreza é a pior forma de violência" (M. Gandhi)

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"A pobreza é a pior forma de violência" (M. Gandhi)

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Um dia em Kitui Ndogo

1,30 da tarde. Bairro de lata de Kitui Ndogo, Majengo, Nairobi, Quénia.

As crianças acabaram de almoçar. Ghiteri, um prato tradicional que adoram: milho, ervilhas, feijão e legumes. Com molho quando há chapati para molharem e deliciarem-se. Que felicidade vê-los comer! Uns, com os seus sorrisos lindos; outros, sérios e concentrados, saboreando cada colherada, como se fosse a última. É que muitas vezes é mesmo a última. Durante quanto tempo? Um dia ou dois, mas o pior é à noite, na hora de dormir: ajeitam-se todos, uns contra os outros para escapar do frio que vem do chão de terra batida e então, o estômago começa a doer: primeiro um pouquinho, e uma voz de criança diz baixinho "chakula" ( comida). As crianças agitam-se; agora já não é só um pouquinho: agora o estômago dói mesmo. E então, começa o choro, o soluço e, também, o desespero de uma mãe que se levanta e aconchega os seus filhos. As lágrimas correm-lhe pela face negra e luzidia e da sua boca sai uma canção de embalar, "shhhhh", não chores meu menino. Amanhã a mãe arranja comida, vais ver. Dorme meu menino, "shhhh", não chores. E ao mais pequenino, a mãe coloca o dedo na sua boca; e o menino começa a chupar, enganando assim a fome, e o choro acalma; e o cansaço vence a dor. O menino adormece. Na face, as lágrimas, que correram por entre o pó da sua carinha, deixam sulcos, como pequenos rios secos.

1,30 da tarde: Bairro de lata de Kitui Ndogo, Majengo, Nairobi, Quénia.
As crianças acabaram de almoçar. Ghiteri! Depois, um soninho, uma barrigudinha cheia e que todos os dias sejam como este!



terça-feira, 6 de março de 2012

Asante sana!

“I love you right up to the moon!”

Said Little NuteBrown Hare and closed his eyes.

“Oh, that’s far!”, said Big Nutbrown Hare.

…”I love you right up to the moon…and back!” said Big Nutbrown Hare.

(da história Guess How Much I Love You).


Fantástica história de um amor que pode tudo e, quando parece que o tudo já foi conquistado, pode ainda esse tudo ser maior! É este "tudo" de emoções, de pessoas, de cores, de risos, de histórias, de dias, que eu encontrei na minha experiência de voluntariado no Quénia: um "tudo" maior do que o tudo que eu achei que já tinha conquistado.

Conquistei muito ao longo de um curto mês no Centro Wanalea Children’s Home. Ouvir “come on Marta, tell us a story and sing a song for us!” e vê-las adormecer, uma a seguir à outra, e depois mais uma, não podia deixar de me mudar. É isto mesmo. Engane-se quem leva a expetativa de mudar a realidade que ali encontra, até porque o essencial não é pertinente de mudança: pessoas com valores, caráter, alegria e muita vontade de viver.

Crianças que se levantam às 5h da manha e não se queixam, que todos dias têm uma pilha de trabalhos escolares para realizar e não se queixam, que todas as noites escovam tão orgulhosamente e com tanto vigor os sapatos para levar à escola e não se queixam! São estas as crianças que a ADDHU me deu a oportunidade de conhecer, crianças guerreiras. Crianças que não tiveram nem têm a vida facilitada, mas que não desistem nem deixam que ninguém que as conhece desista delas. É impossível desistirmos.

Assim que as conheci, fiquei com a certeza de não ter qualquer direito, por um segundo que fosse, de não sorrir. Na minha curta mas inesquecível estada em NoKoroi e no Soweto, o mote foi nunca deixar de fazer o que melhor sei fazer: ouvir, sorrir, rir, abraçar e gostar muito, mas mesmo muito, de estar com todas as pessoas com quem me cruzei, mas sobretudo com os pequenos bravos meninos e meninas que, com certeza, me deram das maiores lições de vida que eu alguma vez já tive.

“Asante sana!” (See you soon!)

Testemunho da voluntária Marta Pinto, após a sua estadia no Quénia entre 8 de Janeiro e 5 de Fevereiro de 2012.

Obrigado Marta!


 Voluntária Marta a jogar voleyball com as crianças do Bairro de Lata

Voluntária Marta em recolha de lixo no âmbito do projecto "Garbage Busters" 

Marta, Eufi, Faith e Shalliff no Centro Wanalea

Voluntários Marta, Maria João e José, com as crianças e o staff do Centro Wanalea