1,30 da tarde. Bairro de lata de Kitui Ndogo, Majengo, Nairobi, Quénia.
As crianças acabaram de almoçar. Ghiteri, um prato tradicional que adoram: milho, ervilhas, feijão e legumes. Com molho quando há chapati para molharem e deliciarem-se. Que felicidade vê-los comer! Uns, com os seus sorrisos lindos; outros, sérios e concentrados, saboreando cada colherada, como se fosse a última. É que muitas vezes é mesmo a última. Durante quanto tempo? Um dia ou dois, mas o pior é à noite, na hora de dormir: ajeitam-se todos, uns contra os outros para escapar do frio que vem do chão de terra batida e então, o estômago começa a doer: primeiro um pouquinho, e uma voz de criança diz baixinho "chakula" ( comida). As crianças agitam-se; agora já não é só um pouquinho: agora o estômago dói mesmo. E então, começa o choro, o soluço e, também, o desespero de uma mãe que se levanta e aconchega os seus filhos. As lágrimas correm-lhe pela face negra e luzidia e da sua boca sai uma canção de embalar, "shhhhh", não chores meu menino. Amanhã a mãe arranja comida, vais ver. Dorme meu menino, "shhhh", não chores. E ao mais pequenino, a mãe coloca o dedo na sua boca; e o menino começa a chupar, enganando assim a fome, e o choro acalma; e o cansaço vence a dor. O menino adormece. Na face, as lágrimas, que correram por entre o pó da sua carinha, deixam sulcos, como pequenos rios secos.
1,30 da tarde: Bairro de lata de Kitui Ndogo, Majengo, Nairobi, Quénia.
As crianças acabaram de almoçar. Ghiteri! Depois, um soninho, uma barrigudinha cheia e que todos os dias sejam como este!
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